Hoje vamos falar sobre obesidade e as canetas emagrecedoras. A obesidade é uma doença multifatorial, o que significa que não é um único elemento que leva uma pessoa a ter obesidade. Alimentação, exercício físico, genética, problemas psicológicos e emocionais e até o nível social podem fazer parte da complexa conta que, somada, leva à obesidade.
A Complexidade da Obesidade: Fatores Multifatoriais
Se a obesidade é multifatorial, o tratamento também precisa ser multifatorial, ou, como dizem os profissionais de saúde, multidisciplinar. Para um tratamento de sucesso e que traga resultados duradouros, são necessários médicos e medicamentos, nutricionistas e uma boa alimentação que respeite necessidades e prazeres, educadores físicos e todos os benefícios que o exercício físico traz, psicólogos para ajudar com as dores da vida e até mesmo políticas públicas para que as pessoas tenham acesso a alimentos nutritivos, a espaços para realizar exercícios físicos com segurança e a cuidados médicos.
A Busca pela Solução Rápida: A Tentação da Pílula Mágica
No entanto, essa abordagem multidisciplinar nem sempre é levada em conta por profissionais de saúde ou pela pessoa procurando tratamento na hora de combater a obesidade. É natural do ser humano tentar encontrar a melhor solução para seus problemas de forma rápida e fácil. É natural sonhar com a pílula mágica que resolva tudo.
No caso da obesidade, não é diferente. Mais especificamente, nos tratamentos para a obesidade, há muito tempo se tenta encontrar um tratamento que resolva essa doença que mata mais de 2,8 milhões de pessoas por ano no mundo.
Já vimos alguns desses tratamentos ao longo dos anos que pareciam a solução de todos os problemas, mas acabaram se mostrando apenas mais uma promessa. Foi assim por volta de 1999, quando foi lançado o orlistat, que não deixava o corpo absorver a gordura da refeição. Foi assim com as cirurgias bariátricas, que prometiam ser o fim definitivo da obesidade, e está sendo assim com o novo medicamento da moda, a semaglutida, também conhecido como Ozempic (as populares “Canetas Emagrecedoras”).
Semaglutida e Ozempic: A Nova Moda no Emagrecimento
A semaglutida faz o mesmo papel no nosso corpo de um hormônio que produzimos naturalmente, o GLP-1. Inicialmente, este medicamento foi desenvolvido para tratar pessoas com obesidade e diabetes tipo 2. O GLP-1 e a semaglutida, que têm o mesmo papel, diminuem a glicose sanguínea através da estimulação da secreção de insulina e diminuição do hormônio glucagon, que tem ação oposta à ação da insulina. Há também uma diminuição do esvaziamento do estômago e, portanto, uma sensação de saciedade por mais tempo. Além disso, essa substância também atua no cérebro em dois sistemas muito importantes no consumo alimentar: o sistema homeostático, responsável pela sensação de fome e saciedade, e o sistema hedônico, responsável pela sensação de prazer que o alimento traz.
A semaglutida funciona para a diminuição do peso e controle da diabetes? Sim! Funciona muito bem! Já existem vários estudos mostrando que as pessoas que fizeram tratamento com esse medicamento perderam até 20% do seu peso inicial. Elas também conseguiram controlar melhor a glicemia e vários outros fatores ligados a doenças cardiovasculares. Além disso, esses estudos relatam que os pacientes sob esse tratamento têm menor fome e apetite, maior saciedade, melhor controle da alimentação, menor desejo por comida e menor preferência por alimentos ricos em gordura. Todos esses fatores levam a pessoa a comer até 35% menos calorias em uma refeição e até 24% menos calorias ao longo do dia.
Nutri! Parece que achamos a solução! Vamos dar esses remédios para todas as pessoas com obesidade como se fosse uma vacina!
Calma! Muita calma! Lembra que a obesidade é multifatorial? E lembra que o tratamento tem que ser multidisciplinar? Se eu não tratar todos os outros pontos que levam ao excesso de peso, o que acontece quando a pessoa chega ao peso desejado e para de tomar o remédio?
Os Desafios do Uso de Semaglutida a Longo Prazo
Acontece, mais ou menos, a mesma coisa que acontece quando fazemos uma dieta restritiva e voltamos a comer normalmente: grande parte do peso perdido volta. E volta com juros.
Começaram a sair estudos que acompanharam as pessoas depois que o tratamento com a semaglutida foi encerrado. Em primeiro lugar, o tratamento não funciona para todo mundo. Algumas pessoas perderam apenas 5% do peso durante o tratamento. Além disso, as pessoas que perderam peso recuperaram grande parte desse peso depois de um ano. Com o agravante de recuperar mais gordura e diminuir a massa magra. Pode haver um acúmulo maior de gordura na região da cintura, o que está ligado a maior incidência de doenças cardíacas, resistência à insulina e acúmulo de gordura no fígado.
A explicação para esse reganho de peso pode ser que as altas doses de semaglutida fazem com que o corpo fique “preguiçoso” e não tenha mais a mesma capacidade de secretar o GLP-1 sozinho. Isso pode fazer com que a fome e o apetite da pessoa retornem com mais força, aumentando o consumo alimentar e, consequentemente, o reganho do peso.
Outra explicação é que as regiões do cérebro que regulam fome e apetite estavam desreguladas antes do tratamento e o medicamento não trata essa desregulação. Portanto, quando o medicamento sai de cena, a fome é grande e a saciedade é pouca, assim como antes do tratamento. Para finalizar, o corpo tem uma capacidade incrível de adaptação e algumas pessoas podem começar a recuperar o peso antes mesmo de parar de tomar o remédio.
Poxa, nutri! Então não devo tomar esse remédio? Depende! O remédio pode funcionar, sim, para pessoas com obesidade grave e que não conseguem controlar a diabetes. Os resultados são muito bons, mas para que eles sejam duradouros, deve existir uma mudança na alimentação e no estilo de vida. Vou voltar a falar aqui até ficar muito claro: O tratamento tem que ser multidisciplinar. O médico passa o remédio, a nutri trabalha na alimentação, o educador físico ajuda no exercício e a psicóloga ajuda no comer emocional. O maior problema desse tipo de medicamento é que pessoas que não têm necessidade de tomá-lo podem acabar recorrendo a ele para perder uns quilinhos e acabar com um problema bem grande recuperando o peso ou até aumentando, perdendo massa magra e ganhando gordura.
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Conclusão: Abordagem Holística para Combater a Obesidade
Os números da obesidade no mundo são assustadores. Toda ajuda para combatê-la é bem-vinda, mas temos que parar de achar que vamos solucionar esse problema de forma mágica e com o mínimo esforço.
Se você está buscando um caminho saudável e sustentável para a perda de peso, conte com o suporte de uma equipe multidisciplinar dedicada ao seu bem-estar. Agende uma consulta comigo aqui e juntos desenvolveremos um plano personalizado que respeite suas necessidades e objetivos. Vamos transformar sua relação com a alimentação e a saúde de forma duradoura!